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foto de pratos típicos da gastronomia italiana

Viagem sem sair da cozinha: pratos e fatos da gastronomia italiana

O mundo parou, é verdade. As viagens foram adiadas ou canceladas. Mas a gente pode continuar viajando de outras formas. Por exemplo, dá pra viajar vendo filmes. Dá também pra viajar lendo livros. Ou, ainda, dá pra viajar conhecendo – e comendo – comidas típicas de vários países do mundo sem sair da sua cozinha. E a gastronomia italiana é uma ótima guia para essas viagens.

Isso porque a comida italiana é uma das mais populares e mais apreciadas do mundo. E, como ouvi em um jantar há um tempo atrás, é também a mais segura, pois onde quer que você esteja sempre vai haver um restaurante italiano com pratos clássicos, pra te salvar caso você esteja com dificuldades com a comida local. Além disso, as comidas típicas italianas podem ser facilmente reproduzidas em casa, tendo ingredientes e pratos já incorporados aos cardápios de muitas cozinhas aqui pelo Brasil. Mas, mesmo assim, há pratos – e fatos – da gastronomia italiana que muitas pessoas às vezes desconhecem.

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Fatos da gastronomia italiana que você precisa conhecer

Existe Itália sem pizza. E existe muito.

Um dia, em um jantar com receitas italianas de que participei aqui em Porto Alegre, um convidado disse que não era possível falar na Itália sem falar em pizza. E eu não pude discordar mais.

Pizza é uma delícia. Eu amo pizza. É até uma pequena tradição familiar no sábado à noite. Mas ela é uma parte muito pequena da gastronomia italiana. Em todas as vezes em que estive na Itália, comi pouquíssimas pizzas e, em quase todas as vezes, mais por uma falta de opção do que por uma escolha espontânea. O “quase todas as vezes” fica por conta de Nápoles, onde experimentar a pizza é meio que obrigatório. Lá, as redondas são um clássico, havendo inclusive certificação para pizzarias que produzem la vera pizza napoletana, dada pela Associazone Verace Pizza Napoletana.

A pizza na Itália em nada se parece com a pizza que é mais popular por aqui: aquela com muito queijo e variadas coberturas, algumas até um pouco (ou muito) bizarras. A pizza italiana, em regra, é aquela estilo napolitana (que, de uns tempos para cá, se tornou bem popular aqui no Brasil), servida em rodas individuais, com uma massa leve, mas com bastante borda, pouca cobertura e pouquíssimo queijo.

Então, minha dica é: uma vez na Itália, experimente a pizza, mas não se prenda a ela. Cada uma das regiões da Itália tem os seus próprios ingredientes e comidas típicas. A quantidade de coisas deliciosas para experimentar é enorme. E não se prenda mesmo que você esteja com o orçamento apertado: há diversas opções de comidas baratas na Itália além da pizza.

Café da manhã não é a refeição mais importante do dia

Por mais que os hotéis e pousadas geralmente sirvam para os turistas cafés da manhã fartos (e deliciosos), saiba que essa refeição não é muito prioridade na vida do italiano. Aí você fica pensando: com todos aqueles queijos, salames e presuntos, como assim italiano não dá muita bola para o café da manhã? Pois é. Acontece que todos aqueles queijos, salames e presuntos aparecem na hora do almoço ou do jantar, geralmente como antepastos. Não são comida de café da manhã, assim como qualquer outra comida salgada.

Para os italianos, o café da manhã significa um café acompanhado (ou não) de algum pão ou biscoito, sempre doce, como o cornetto (o parente italiano do croissant e da medialuna). Além disso, é costume na Itália tomar o café da manhã no balcão de um bar/café, a caminho do trabalho. E, geralmente, toma-se esse café da manhã em meio à leitura dos principais jornais do país e a discussões sobre política ou sobre a última rodada do calcio (o futebol na Itália).

Não se corta a massa

É verdade que cada um come do jeito que achar melhor. Mas também é verdade que, na Itália, cortar a massa longa é uma enorme gafe gastronômica.

E a regra não é só uma frescura. Boa parte dos restaurantes da Itália produzem sua própria massa, de forma artesanal, às vezes com receitas de família que vão passando de geração em geração. Além deles, os fabricantes passam muito tempo pesquisando e testando fórmulas para criar uma massa que não quebre ao cozinhar. Produzir massa na Itália é como se fosse arte. Aí vai lá o turista e pá! Corta a obra de arte em pedacinhos.

Além disso, ao cortar a massa ao invés de enrolá-la, você acaba deixando no prato boa parte do molho. E italianos não gostam de molho desperdiçado. Já vi dona de restaurante passando todo o molho sobrado no prato de servir para o prato do cliente, ao mesmo tempo em que olhava para ele dizendo “è pomodoro!”, tentando fazer o tal cliente, que não falava italiano, entender que não se desperdiçava um molho de tomate daqueles.

Por fim, a não ser que seja para uma criança ou para alguém com dificuldades motoras, não há o menor sentido em pedir uma massa longa, tipo tagliatele ou pappardelle, e cortar os fios, transformando-a em uma massa curta. Se é assim, peça logo de uma vez uma massa curta, tipo um penne ou um fusilli. Ou então parta pra uma massa recheada, tipo um tortelli

Mas não corte a massa. Capisce?

Não se usa colher pra comer massa

Não se sabe muito bem de onde surgiu esse costume. Talvez tenha sido entre os imigrantes italianos nos Estados Unidos. Mas na Itália não foi, com certeza. Para os italianos, não se usa colher para ajudar a enrolar a massa longa.

Eu não costumo comer nesses restaurantes meio pega-turista (esses que ficam colados nos pontos turísticos), então não sei dizer se eles se adaptam ao costume dos clientes estrangeiros. Geralmente escolho restaurante mais “nativos”. E, em três vezes na Itália, nunca sentei em um restaurante que colocasse uma colher ao lado do prato para comer a massa.

Além disso, se você pesquisar em sites e blogs sobre etiqueta na gastronomia italiana, a principal instrução para se comer uma massa longa é que se utiliza tão somente o garfo. Tem até vídeo explicando a “técnica”: coloque o garfo na massa, incline um pouquinho o talher, enrole a massa até todos os fios estarem no garfo e leve o garfo à boca. Se precisar de uma ajudinha com o molho, use um pedaço do pão que certamente vai estar na sua mesa.

Limpar o prato com o pão não é feio

Alguma vez você já ouviu a expressão fare la scarpetta? Talvez a expressão seja desconhecida, mas o hábito certamente não. Quem nunca “limpou” o prato com um pedacinho de pão, só pra não perder uma gota daquele molho delicioso? Pois fazer a scarpetta é exatamente isso: “limpar” o prato com o pão.

Há quem ache deselegante. Eu, pelo contrário, acho ótimo. E praticamente toda a Itália concorda comigo. “Limpar” o prato com pão não é feio. Se você ficar com vergonha de usar as mãos, espete um pedaço do pão com o garfo. Porque feio mesmo é desperdiçar aqueles molhos maravilhosos que os italianos fazem. Não deixar nenhum resquício de molho no prato é até um elogio ao cozinheiro.

Na Toscana, carne grelhada só tem dois pontos: crua ou mal passada

Carne bem passada é um conceito que a gastronomia italiana na Toscana praticamente desconhece. Há vários cortes de carne que são servidos crus, como o crudo di manzo, ou bem mal passados, como no caso da bistecca alla fiorentina. No caso da bistecca, nem tente pedir bem passada. Isso non ec-zis-te, como já diria o finado Padre Quevedo. A forma de preparação da bistecca só permite um ponto para a carne e este é o mal passado.

Em regra, na Toscana, o nível de cocção da carne grelhada é, no máximo, ao ponto (cottura media, em italiano). E ainda assim geralmente é um “ao ponto” mais para o lado do mal passado do que para o do bem passado. Mas, caso você queira comer carne e prefira o seu corte bem passado, peça uma tagliata di manzo, que é como se fosse um bife alto, cortado em fatias. Acredito que o chef não vai se importar de deixar o seu bife mais tempo no fogo. Ou então deixe os grelhados de lado e parta para os pratos de carne com molho, ou ainda para outros tipos de carne. Dependendo da região, há pratos de frango e, principalmente, de peixes e frutos do mar que são uma delícia.

Só não peça pra passar bem a bistecca.

O Fettuccine Alfredo é ou não é receita típica italiana?

Não há dúvidas de que quem criou a receita foi um cozinheiro italiano, Alfredo di Lelio. Hoje o prato é servido no restaurante Il Vero Alfredo, em Roma, que é dirigido pelas gerações mais novas da família do cozinheiro. Já li por aí que o Fettuccine Alfredo é um prato que os italianos costumam fazer em casa, quando estão sem muito tempo ou sem muitos ingredientes na geladeira.

Mas o fato é que o prato é praticamente desconhecido fora ou mesmo dentro de Roma. Eu não me recordo de ter visto esse prato nenhum dos cardápios dentre todos os restaurantes em que comi na Itália, inclusive em Roma. Além disso, quando fizemos uma aula de culinária na Toscana, há uns anos atrás, o chef que ministrou a aula afirmava categoricamente que o Fettuccine Alfredo não era um prato típico italiano.

Na verdade, todas as fontes de informação disponíveis na internet (blogs e sites de notícias da Itália) dizem que o prato foi criado na Itália, mas se difundiu somente nos Estados Unidos, depois que dois atores de cinema, famosos no início do século XX, experimentaram o fettuccine durante a lua de mel que passaram na Itália. E, como, no Brasil, temos uma cultura bastante influenciada pelos EUA, a “italianice” do Fettuccine Alfredo se espalhou por aqui também.

Claro que, se você curte o Fettuccine Alfredo (eu confesso que não vejo muita graça nele), aproveite a visita a Roma para provar o original. Mas, no fim das contas, o prato inventado pelo seu Alfredo é comida típica italiana mais para o resto do mundo do que para os próprios italianos.

Não existem galeterias na Itália

Uma das primeiras coisas que o brasileiro que visita a Itália percebe é que a gastronomia italiana é diferente da gastronomia dos imigrantes italianos no Brasil. E isso é até óbvio, pois qualquer receita que “migra” de um país, ou região, para outro acaba tendo que se adaptar às condições do local onde ela está sendo preparada: clima, ingredientes, gostos, costumes.

Com a gastronomia italiana não foi diferente. Várias coisas que se conhecem por “italianas” aqui não existem na Itália. Uma delas são as nossas galeterias. Toda cidade de imigração italiana aqui, pelo menos aqui no Rio Grande do Sul, tem uma. Eu até acho que os italianos não sabem o que estão perdendo, pois galeteria é coisa muito boa. Mas o fato é que, para o italiano, essa coisa de servir todos os pratos de uma vez só na mesa, misturando massa com carne com salada, é praticamente impensável.

Pratos e tudo mais da gastronomia italiana que você precisa conhecer

Bistecca alla Fiorentina

A bistecca alla fiorentina consiste num corte do lombo do boi, geralmente de cerca de 1kg, que inclui tanto o filé quanto o contrafilé, com um osso em forma de T no meio, semelhante ao T-Bone. É feita sempre na grelha sobre a brasa, deixando-se o pedaço 5 minutos de cada lado, mais 15 minutos em pé. Não se coloca sal e a carne é servida sempre mal passada.

Há vários lugares em Florença que servem a bistecca alla fiorentina. Mas o meu lugar preferido fica, na verdade, no Chianti, em Panzano, na Officina della Bistecca. Lá, os clientes são recebidos para o almoço às 13h ou às 13h30, mas todos se sentam juntos em grandes mesas. É servido para todos, ao mesmo tempo, um menu fechado, em etapas, com os cortes de carne típicos da Toscana: tartare di manzo, carpaccio, costata, bistecca panzanese e a bistecca alla fiorentina. É uma das melhores experiências gastronômicas que eu já tive na Itália. Contei mais sobre ela aqui neste outro post.

Vinhos e espumantes italianos

Eu não sou nenhuma técnica em vinhos. Mas sou bem curiosa e gosto de experimentar os vinhos locais nos países que visito. E a Itália é uma das maiores produtoras de vinhos do mundo. A tradição na produção de vinhos finos é menor do que a francesa, mas os italianos possuem uma maior variedade de uvas nativas do que qualquer outro país.

Chianti Clássico

A variedade de vinhos italianos é enorme. Na hora de escolher, fique com os típicos da região que estiver visitando. E, dentre os mais importantes vinhos da Itália está o Chianti Clássico, que é produzido na região do Chianti, na Toscana. Ele é feito a partir da uva Sangiovese (nativa da Itália, sendo a mais produzida no país), combinada com Cabernet Suavignon ou Merlot, ou ambas (estas seriam uvas “estrangeiras”). Mas, para o vinho ser chamado de Chianti Clássico, ele precisa ter, no mínimo, 80% de Sangiovese.

Esse vinho é produzido por duas vinícolas das mais antigas da Itália. A Ricasoli, que produz vinhos desde 1141, é a mais antiga do país. A vinícola oferece um tour guiado pelo Castello di Brolio, de propriedade da família Ricasoli, em conjunto com uma degustação de dois rótulos de Chianti Clássico DOCG e mais um de Chianti IGT (logo, logo sai um post só pra explicar essas certificações dos vinhos e falar mais dos vinhos italianos). E a outra vinícola, Castello di Volpaia, que fica na localidade de mesmo nome, é tombada pelo patrimônio histórico italiano, e produz vinhos desde 1172. O tour oferecido pela vinícola inclui, além da visita às instalações, uma degustação de quatro rótulos realizada em uma sala onde estão armazenados vinhos produzidos há 40, 50 anos.

foto do Castello di Volpaia na Toscana na Itália
Castello di Volpaia

Brunello di Montalcino

Outro dos vinhos importantes da Itália é o Brunello di Montalcino, que também é produzido na Toscana, na região de Montalcino, a partir da uva Sangiovese, a mesma do Chianti Clássico. Mas, no caso do Brunello, não há acréscimo de outras uvas na composição do vinho. Para experimentá-lo, há diversas lojas e enotecas na cidade de Montalcino que oferecem degustação. Os preços variam bastante, mas é possível comprar algumas garrafas por um preço bem razoável, geralmente mais barato do que ele custa aqui no Brasil.

O “Brunellogate”

A composição do Brunello de Montalcino é 100% Sangiovese e a violação a essa regra já causou um escândalo na Itália nível Berlusconi de polêmica. Isso porque a composição do Brunello faz parte das regras da denominação de origem dada a esse vinho (Denominazione di Origine Controllata e Garantita – DOCG) e também das regras do Consorzio di Brunello di Montalcino. Mas, em 2008, descobriu-se que alguns produtores estavam misturando outras uvas ao Brunello, a fim de aumentar a produção e as vendas. A descoberta da fraude – que ficou conhecida como Brunellopoli ou Brunellogate – resultou na apreensão de mais de 7 milhões de garrafas e na desclassificação de diversos rótulos para Rosso Toscano IGT, inclusive alguns de importantes produtores de vinhos DOCG.

A fraude gerou um intenso debate sobre a possibilidade de flexibilização na composição do Brunello, para agradar novos mercados. A maioria dos produtores do Consórcio entendeu que a composição deveria ser mantida, evitando-se assim a homogeneização global do vinho. Mas a controvérsia ainda persiste lá na Itália.

Amarone della Valpolicella

Amarone della Valpolicella é um vinho típico da região de Verona, no Vêneto, no norte da Itália. A produção do Amarone é um pouco diferente da dos outros vinhos, já que as uvas (geralmente Corvina Veronese, Rondinella Mollinara) passam por um processo de desidratação, chamado appassimento, que serve para aumentar a concentração de açúcares e aromas dos grãos, o que dá mais “corpo” ao vinho.

Além disso, o Amarone della Valpolicella é ingrediente de um prato da gastronomia italiana, típico da região de Verona: o risotto al’amarone. É um prato muito gostoso, que vale a pena experimentar.

Prosecco Superiore

O Prosecco Superiore di Cartizze é o mais importante prosecco do mundo. É um espumante DOCG produzido em uma área de apenas 106 ha, onde dizem que está o metro quadrado mais caro da Itália. A pequena região, formada por colinas, é inteiramente coberta com vinhedos, que produzem exclusivamente a uva Glera. Para um prosecco ser chamado de prosecco, ele precisa ter, obrigatoriamente, 85% dessa uva na composição.

A região do Cartizze fica na comune de Valdobbiadene, onde se chega pela Strada del Prosecco, uma das primeiras rotas enoturísticas da Itália. Ao longo da rota, que fica entre Valdobbiadene e a comune de Conegliano, há vários pontos que valem a visita, além das paisagens serem belíssimas. É uma rota que cabe redondinha num bate-volta a partir de Veneza. Ou em um pit-stop no caminho entre Veneza e algum destino mais ao norte, que foi o que fizemos.

foto da região do Cartizze na Itália gastronomia italiana

Além do Superiore di Cartizze, a região entre Valdobbiadene e Conegliano produz outras variedades de Prosecco Superiore DOCG, menos importantes, mas mais baratas e tão boas quando o espumante do Cartizze. Ao visitar a região, não saia de lá sem experimentar alguma dessas bebidas. Peça Brut se gosta dos secos. Ou Dry, se for dos doces.

Tagliatele al ragù

Um dos principais pratos da gastronomia italiana, e um dos mais populares no mundo todo, é o tagliatele al ragù. Mas ele tem muito pouco a ver com a nossa conhecida massa à bolonhesa.

Explicando bem superficialmente, enquanto por aqui o molho é feito, basicamente, com carne moída cozida no molho de tomate, no ragù a carne moída é cozida não só com extrato de tomate ou tomates pelados, mas também com um pouco de vinho, leite, pancetta, cenoura e cebola, dentre outros ingredientes. E mais: enquanto aqui gente joga o nosso molho sobre qualquer espaguete ou talharim seco, em Bolonha, o ragù é servido sobre uma massa fresca, o tagliatele (parecido com o nosso talharim, só um pouco mais largo às vezes), que geralmente é produzida no próprio restaurante.

Em Bolonha, a receita do ragù clássico é coisa séria. Tanto, que foi registrada, em 1982, na Camera di Commercio Industria Artigianato e Agricoltura di Bologna, por integrantes da Accademia Italiana della Cucina. Assim, somente pode ser chamado de ragù o molho que segue exatamente a receita registrada. Mas os sabores podem variar, de lugar para lugar.

Onde comer um bom tagliatele al ragù

Nessa espécie de “variedade controlada” do ragù alla bolognese, a Osteria dell’Orsa é considerada por muitos o Pavarotti do tagliatele al ragù. Em todos os guias de viagem, blogs, revistas, que consultei para saber onde comer em Bolonha, todos indicavam a Osteria como um dos melhores – se não, o melhor – lugar para experimentar o legítimo ragù alla bolognese.

O lugar é simples, mas muito simpático. Tem um ar meio universitário, com mesas grandes e coletivas, e nenhuma frescura. Nada de guardanapos de pano ou taças de cristal. Mas o tagliatele al ragù é realmente fantástico. 

onde comer em bolonha tagliatele al ragù

Spaghetti alla Carbonara

Você sabia que o spaghetti alla carbonara pode não ser um prato originariamente italiano?

Pois é. A origem do prato não é clara, mas há quem sustente que a receita seria, na verdade, uma criação de soldados norte-americanos, durante a Segunda Guerra Mundial, como uma forma de relembrar os seus lares, já que os ingredientes da carbonara (pimenta, ovos e pancetta) são também ingredientes do café da manhã nos EUA.

Mas, seja ela criação italiana ou norte-americana, o fato é que a receita chegou a Roma e foi repassada de família em família, por diversas gerações, tornando-se uma tradição na cozinha italiana.

foto de spaghetti alla carbonara em Roma gastronomia italiana

O molho Amatriciana

Eu gosto muito das receitas tradicionais, aquelas que passam de geração em geração, atravessam oceanos, e continuam as mesmas. Esse spaghetti all’amatriciana, por exemplo. Surgiu na comune de Amatrice, na Itália (apesar de muitos atribuírem o prato à cozinha romana), e, originalmente, era feito in bianco (sem tomates) e, só por volta de 1700, é que foram adicionados tomates ao molho. É feito basicamente com guanciale (uma espécie de bacon, feito da bochecha do porco), tomates, pimenta e queijo pecorino. Simples, mas desconheço muitas coisas que sejam melhores que um molho de tomate bem feito, sobre uma pasta al dente.

foto de spaghetti alla matriclan do restaurante Vincenzo em Porto Alegre gastronomia italiana

Os queijos italianos

Na gastronomia italiana, os queijos, além de servirem de ótimos antepastos, são utilizados como ingredientes em diversos pratos típicos. Um dos mais conhecidos mundo afora é o queijo granaum queijo curado produzido em formato de uma grande roda. Ele tem duas variedades, o grana padano (produzido na região do vale do rio Pó, entre a Lombardia e a Emilia-Romagna) e o parmigiano reggiano (produzido na Emilia-Romagna). São queijos que podem ficar curando por até dois anos, resultando em um sabor bem marcante.

Além deles, outro queijo muito utilizado nos pratos da gastronomia italiana é o pecorino, que é um queijo típico da Toscana, dentre outras. Esse queijo é feito com leite de ovelha e é utilizado em pratos típicos bem conhecidos, como o spaghetti alla carbonara ou o cacio e pepe. E, saindo dos queijos curados e passando para os frescos, outros queijos muito populares na Itália são a mozzarella di bufala (queijo cremoso) e a burrata (creme dentro de um “pacote” de coalho). Típicos do sul da Itália, ambos são bem difundidos aqui no Brasil.

gelato italiano

Das coisas que são obrigatórias quando se viaja para a Itália: comer um gelato. Não importa se é inverno ou verão: não saia da Itália sem comer um gelato. E se você estiver de dieta, não se preocupe: um gelato italiano vale cada caloria.

Há milhares de gelaterias na Itália. Umas famosas, outras nem tanto. Mas, na hora de escolher onde comer, eu sempre sigo a dica de uma fiorentina que foi nossa guia em um passeio por lá anos atrás: escolha as gelaterias cujo balcão refrigerado expõe os sorvetes de forma plana. Isso porque algumas gelaterias, geralmente aquelas que ficam próximas dos principais pontos turísticos das cidades italianas, expõem os sorvetes fazendo verdadeiras esculturas. Mas é óbvio que elas não desmancham as esculturas no final do dia pra refazê-las no dia seguinte. E, para que as esculturas de sorvete não desmanchem, usa-se uma espécie de fixador, o que diminuiria a qualidade do sorvete. Por isso, segundo a nossa guia, os melhores sorvetes seriam aqueles expostos de forma simples, sem firulas.

Se a nossa guia estava certa ou não, isso eu não posso afirmar com certeza. Mas que, desde que passamos a seguir a dica dela, nunca mais comemos um sorvete ruim na Itália, isso eu garanto pra vocês.

foto de gelato italiano em Veneza gastronomia italiana

Dicas para aproveitar a gastronomia italiana

Experimente as comidas típicas de cada região

Italiano, quando o assunto é comida, é um pouco conservador. Geralmente, as principais receitas da gastronomia italiana são feitas respeitando a receita original. Além disso, cada região tem as suas receitas e os seus ingredientes próprios, sendo que a sazonalidade dos insumos é bastante observada na Itália (cada um tem uma estação ou época do ano própria para a produção). Então, se quiser garantir a qualidade da experiência gastronômica, procure comer os pratos típicos de cada região. A gastronomia italiana é tão rica e tão variada, que é até um pecado não se aventurar pelos inúmeros pratos e ingredientes que essa cozinha oferece.

Para exemplificar, mesmo no norte da Itália, você poderá encontrar uma carbonara deliciosa. Ou, quem sabe, um bom tagliatele al ragù no sul da Itália. Mas, talvez seja melhor deixar para experimentar a carbonara em Roma, onde ela é um clássico, e o tagliatele al ragù em Bolonha, onde ele tem até receita oficial. E escolher um risotto all’amarone se você estiver em Verona, ou aproveitar os frutos do mar se você estiver em Veneza, por exemplo.

Faça apenas uma refeição completa por dia

A refeição italiana tem três etapas básicas: antipasto, primo piatto e secondo piatto. A elas você ainda pode acrescentar os contorni e as sobremesas. Por isso, os pratos em alguns restaurantes podem não ser tão bem servidos, já que eles esperam que você vá pedir a refeição completa.

Uma refeição completa na Itália custa, em média, entre 20 a 30 euros. Certamente não é um valor barato. Mas uma dica para experimentar a gastronomia italiana sem estourar o orçamento da sua viagem é fazer uma só refeição completa por dia, no almoço ou no jantar. Se escolher o jantar, faça apenas um lanche durante o dia, aproveitando os paninis, focaccias e ciabatas, recheados com os frios de sua preferência e acompanhados de taças de vinho ou prosecco. Isso porque esses lanches estão disponíveis em profusão pelas cidades da Itália. Além disso, são geralmente bem servidos e vendidos a preços honestos. E são uma delícia!

Aproveite os antipasti

Outra dica para economizar na alimentação sem perder o bom da gastronomia italiana é experimentar os antipasti. As entradas são pratos mais baratos e, em muitas vezes, são muito bem servidos.

Antepasto é o prato que antecede a refeição principal (“pasto”, em italiano, quer dizer “refeição”). Tem quem passe reto pela seção de antepastos do cardápio e eu até entendo: quando a oferta de pratos principais deliciosos é grande, fica difícil perder tempo com “entradinhas”. E, na Itália, isso se agrava, porque a refeição ainda pode ter dois pratos principais. Definitivamente, dá pra entender quem não quer perder tempo com introduções. Mas, apesar de entender, deixa eu dizer uma coisa pra você: não ignore os antepastos dos cardápios italianos.

Na Itália, alguns dos antepastos mais comuns são as tábuas de frios (queijos, salames, presuntos). E, na maioria das vezes, elas podem ser compartilhadas, ainda que sejam individuais. Outros antepastos que são presença constante nos cardápios, mas que podem variar nas combinações, são os carpaccios. Geralmente de carne bovina, com o tradicional pesto ou com vegetais bem típicos da cozinha italiana, como o bulbo da erva-doce. Mas podem ser também de salmão, ou de truta salmão defumada. Eu, honestamente, não sei dizer qual seria o melhor.

Por fim, outro antepasto bem comum são as bruschettas. Bom, aí a criatividade rola solta: vários são os ingredientes que podem ser colocados sobre os pãezinhos. Pode ser apenas tomate e manjericão. Ou pode até chegar a combinar anchova, abóbora, cebola agridoce, passas, pinole e erva-doce. E ficar tudo uma delícia.

Mas esses são só alguns antepastos mais comuns. Frutos do mar, bacalhau, vegetais da estação, dentre outros, também aparecem nos cardápios. E, se você quiser ser ousado, pode experimentar até alguns antepastos com fígado, pescoço de galinha, dentre outras iguarias da cozinha italiana.


E você, curte a gastronomia italiana? Qual o prato típico da Itália que você mais gosta? Conta pra gente!


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Livros de receitas

Além de gostar de experimentar os pratos típicos de todos os lugares que visito, eu também gosto de me arriscar na cozinha. Cozinhar, além de nos ajudar a comer melhor, também acaba sendo uma distração, quase uma terapia, em tempos de quarentena. Por isso, eu tenho uma pequena coleção de livros de receitas, que me ajudam não só a executar as receitas, como também a entender melhor os ingredientes e as técnicas utilizadas em cada uma delas. Para a gastronomia italiana, além de livros trazidos da Itália, eu utilizo dois específicos pra essa cozinha, que gosto bastante.

Um deles é o Eataly – Receitas, História e Gastronomia Italianaque é bem visual e tem, além das receitas, uma amostragem dos principais ingredientes utilizados na culinária italiana. E o outro dos livros específicos sobre a gastronomia da Itália que eu utilizo é o A Itália de Jamie, do chef Jamie Oliver. Há várias receitas ótimas, como é de praxe nos livros do Jamie. Mas eu acho esse livro bem menos prático que o do Eataly, pois várias receitas exigem uma certa técnica do cozinheiro, e muitos dos ingredientes propostos não têm tanta disponibilidade por aqui (o que é um problema bem comum quando se tratam de livros de receitas produzidos por chefs estrangeiros).

Mas se o que você quer é ter um livro de receita que te ajude a elaborar qualquer prato, inclusive os da gastronomia italiana, os da Rita Lobo, pra mim, são imbatíveis. Os meus preferidos são o conhecidíssimo Panelinha: receitas que funcionamPitadas da Ritaque, além de receitas, tem muitas dicas boas sobre técnicas, utensílios e planejamento alimentar; e o Só pra umque é perfeito pra quem tem que cozinhar pra si mesmo, já que o livro traz receitas em pequenas porções, além de ajudar muito no planejamento alimentar e na organização da cozinha.


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1 comentário em “Viagem sem sair da cozinha: pratos e fatos da gastronomia italiana”

  1. HISTORY OF ALFREDO DI LELIO CREATOR IN 1908 OF “FETTUCCINE ALL’ALFREDO” (“FETTUCCINE ALFREDO”), NOW SERVED BY HIS NEPHEW INES DI LELIO, AT THE RESTAURANT “IL VERO ALFREDO” – “ALFREDO DI ROMA” IN ROME, PIAZZA AUGUSTO IMPERATORE 30

    With reference to your article I have the pleasure to tell you the history of my grandfather Alfredo Di Lelio, who is the creator of “Fettuccine all’Alfredo” (“Fettuccine Alfredo”) in 1908 in the “trattoria” run by his mother Angelina in Rome, Piazza Rosa (Piazza disappeared in 1910 following the construction of the Galleria Colonna / Sordi). This “trattoria” of Piazza Rosa has become the “birthplace of fettuccine all’Alfredo”.
    More specifically, as is well known to many people who love the “fettuccine all’Alfredo”, this famous dish in the world was invented by Alfredo Di Lelio concerned about the lack of appetite of his wife Ines, who was pregnant with my father Armando (born February 26, 1908).
    Alfredo di Lelio opened his restaurant “Alfredo” in 1914 in Rome and in 1943, during the war, he sold the restaurant to others outside his family.
    In 1950 Alfredo Di Lelio decided to reopen with his son Armando his restaurant in Piazza Augusto Imperatore n.30 “Il Vero Alfredo” (“Alfredo di Roma”), whose fame in the world has been strengthened by his nephew Alfredo and that now managed by me, with the famous “gold cutlery” (fork and spoon gold) donated in 1927 by two well-known American actors Mary Pickford and Douglas Fairbanks (in gratitude for the hospitality).
    See the website of “Il Vero Alfredo”.
    I must clarify that other restaurants “Alfredo” in Rome do not belong and are out of my brand “Il Vero Alfredo – Alfredo di Roma”.
    The brand “Il Vero Alfredo – Alfredo di Roma” is present in Mexico with 2 restaurants (Mexico City and Puebla) and 2 trattorias (Mexico City and Cozumel) on the basis of franchising relationships with the Group Hotel Presidente Intercontinental Mexico.
    The restaurant “Il Vero Alfredo” is in the Registry of “Historic Shops of Excellence – section on Historical Activities of Excellence” of the Municipality of Roma Capitale.
    Best regards Ines Di Lelio

    IN ITALIANO

    STORIA DI ALFREDO DI LELIO, CREATORE DELLE “FETTUCCINE ALL’ALFREDO” (“FETTUCCINE ALFREDO”), E DELLA SUA TRADIZIONE FAMILIARE PRESSO IL RISTORANTE “IL VERO ALFREDO” (“ALFREDO DI ROMA”) IN PIAZZA AUGUSTO IMPERATORE A ROMA

    Con riferimento al Vostro articolo ho il piacere di raccontarVi la storia di mio nonno Alfredo Di Lelio, inventore delle note “fettuccine all’Alfredo” (“Fettuccine Alfredo”).
    Alfredo Di Lelio, nato nel settembre del 1883 a Roma in Vicolo di Santa Maria in Trastevere, cominciò a lavorare fin da ragazzo nella piccola trattoria aperta da sua madre Angelina in Piazza Rosa, un piccolo slargo (scomparso intorno al 1910) che esisteva prima della costruzione della Galleria Colonna (ora Galleria Sordi).
    Il 1908 fu un anno indimenticabile per Alfredo Di Lelio: nacque, infatti, suo figlio Armando e videro contemporaneamente la luce in tale trattoria di Piazza Rosa le sue “fettuccine”, divenute poi famose in tutto il mondo. Questa trattoria è “the birthplace of fettuccine all’Alfredo”.
    Alfredo Di Lelio inventò le sue “fettuccine” per dare un ricostituente naturale, a base di burro e parmigiano, a sua moglie (e mia nonna) Ines, prostrata in seguito al parto del suo primogenito (mio padre Armando). Il piatto delle “fettuccine” fu un successo familiare prima ancora di diventare il piatto che rese noto e popolare Alfredo Di Lelio, personaggio con “i baffi all’Umberto” ed i calli alle mani a forza di mischiare le sue “fettuccine” davanti ai clienti sempre più numerosi.
    Nel 1914, a seguito della chiusura di detta trattoria per la scomparsa di Piazza Rosa dovuta alla costruzione della Galleria Colonna, Alfredo Di Lelio decise di aprire a Roma il suo ristorante “Alfredo” che gestì fino al 1943, per poi cedere l’attività a terzi estranei alla sua famiglia.
    Ma l’assenza dalla scena gastronomica di Alfredo Di Lelio fu del tutto transitoria. Infatti nel 1950 riprese il controllo della sua tradizione familiare ed aprì, insieme al figlio Armando, il ristorante “Il Vero Alfredo” (noto all’estero anche come “Alfredo di Roma”) in Piazza Augusto Imperatore n.30 (cfr. il sito web di Il Vero Alfredo).
    Con l’avvio del nuovo ristorante Alfredo Di Lelio ottenne un forte successo di pubblico e di clienti negli anni della “dolce vita”. Successo, che, tuttora, richiama nel ristorante un flusso continuo di turisti da ogni parte del mondo per assaggiare le famose “fettuccine all’Alfredo” al doppio burro da me servite, con l’impegno di continuare nel tempo la tradizione familiare dei miei cari maestri, nonno Alfredo, mio padre Armando e mio fratello Alfredo. In particolare le fettuccine sono servite ai clienti con 2 “posate d’oro”: una forchetta ed un cucchiaio d’oro regalati nel 1927 ad Alfredo dai due noti attori americani M. Pickford e D. Fairbanks (in segno di gratitudine per l’ospitalità).
    Desidero precisare che altri ristoranti “Alfredo” a Roma non appartengono e sono fuori dal mio brand di famiglia.
    Il brand “Il Vero Alfredo – Alfredo di Roma” è presente in Messico con 2 ristoranti (Città del Messico e Puebla) e 2 trattorie (Città del Messico e Cozumel) sulla base di rapporti di franchising con il Group Hotel Presidente Intercontinental Mexico.
    Vi informo che il Ristorante “Il Vero Alfredo” è presente nell’Albo dei “Negozi Storici di Eccellenza – sezione Attività Storiche di Eccellenza” del Comune di Roma Capitale.

    Grata per la Vostra attenzione ed ospitalità nel Vostro interessante blog, cordiali saluti
    Ines Di Lelio

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